21 de junho de 2009

{RPG e Educação} Miguxês, americanês, internetês e outros ês

As práticas de leitura e escrita, e às vezes de pesquisa, sempre estiveram atreladas de alguma maneira ao passatempo do RPG, seja lendo livros de cenários e regras, escrevendo em planilhas ou até mesmo criando cenários e desenvolvendo biografias complexas de personagens. Cada um tem suas preferências.

Como iniciei, por acaso, a prática de escrita ao tentar criar um mundo fantástico e biografias modestas de personagens, eu não sabia, mas eu treinava por prazer a habilidade de escrever. E isso numa época sem computadores e internet, ou seja, sem corretores ortográficos e dicionários ‘online’, era tudo feito com que eu sabia ou procurava saber quando desconhecia uma palavra - através do velho e sempre eficaz dicionário impresso - ou estava em dúvida com uma pontuação ou construção liguística (sem trema agora). Então eu escrevia em cadernos velhos, a lápis para poder me corrigir, minhas modestas criações. E ao reler eu percebia erros óbvios ou coisas estranhas que me deixavam em dúvida se estavam corretas. É, sou dos Dias Antigos como já escrevi aqui, uma época que muitos eram ‘aborrecentes’ e alguns continuam sendo, independente da idade.

Já chego onde precisamos tocar em certas feridas.

Como muitos sabem, os computadores e depois a internet se proliferaram pelo Brasil a partir do final dos anos noventa. E os sites com possibilidades de qualquer um comentar algo surgiram, assim como as aberrações ortográficas. Como não tenho nada a ver com as vidas das pessoas, só posso ler e me chocar. Palavras simples com erros grotescos e frases mal elaboradas, que não conseguem expressar o que querem ou o fazem de forma errada ou ainda parecem dizer outra coisa - as frases. Então vieram as construções nascidas na internet que depois se mesclaram e “evoluíram” para formas excessivamente carinhosas de se expressar, sempre acompanhadas dos erros básicos inomináveis. E nos últimos anos, com a chamada ‘web 2.0’, onde cada um pode ter seu próprio espaço na internet, sem custo algum, as anomalias ortográficas se consolidaram e continuam seu caminho rumo a uma nova coisa.

Talvez por eu ser de outra época ou me preocupar em escrever de forma correta essas coisas me assustem mais. Vejo blogs e postagens de praticantes do RPG, que devem ler e escrever, com essas novas coisas de uma gramática subversiva e desfigurada, seja com expressões típicas do ambiente digital com contrações e arremedos de palavras ou com o recente excesso de expressões de outros idiomas, de outro idioma na verdade. Eu tenho pena, mas posso estar totalmente errado. Como não sou da área de letras, e mesmo se fosse precisaria de um estudo como alguns que existem, posso ter me perdido no tempo e ficado com meus velhos hábitos jurássicos, mas fiquei tranquilo quando me vi escrevendo respostas discursivas no vestibular além da tão temida redação, há anos atrás, ou quando na vida adulta preciso preparar documentos num ambiente de trabalho ou para minha educação continuada.

Talvez eu simplesmente goste de escrever corretamente, até de assinar nos mais diferente ambientes digitais, mesmo com meu nome e ‘avatar’ ao lado do texto; afinal de contas, temos que assinar quando desenvolvemos documentos no mundo real, das obrigações sociais que surgem com o passar dos anos.

Eu me interesso pelo RPG atrelado às práticas de leitura e escrita desde o ano 2000, com o lançamento do livro da Andréa Pavão - A Aventura da Leitura e da Escrita entre Mestres de Roleplaying Game (RPG) (autografado e com direito a foto. Podem me chamar de babaca, mas eu achei muito legal!) e há alguns anos pela Ludus Culturalis.

Gilson


7 comentários:

Rodrigo "Ragabash" disse...

Gilson!

Devo dizer que a carapuça me serviu. Eu cometo inúmeros erros gramaticais e de coesão.

Muito por pura preguissa com pitadas de ignorância.

Como sou fraco perante à este pecado capital, quase sempre me rendo a falta de votnade de procurar entender a maneira correta de escrever. É uma pena...

Mas dou-te total liberdade para comentar erros gramaticais meus no RPG Pará.

Essa interassão entre pessoas e abertura para críticas acredito que sejam essenciais para o amadurecimento do homem.

Gostei muito do texto. Meus parabéns! :o)

Gilson Rocha disse...

Valeu, Rodrigo.

Mas não se acanhe. Como eu disse, deve ser preocupação exagerada da minha parte.

Gilson

Anônimo disse...

Não é preocupação exagerada Gilson. Escreve-se muito mal e eu mesmo andei meio envergonhado com baboseiras que ando deixando escapar.

É tudo tão rápido na internet que as vezes perdemos muito pouco tempo observando o que está sendo escrito.

O grande problema (talvez) é que nem todo jogador mergulha nesse processo de criação. O mestre muitas das vezes é quem mais se beneficia. Ele que mais lê, escreve e cria, assim ganha mais domínio da lingua.

Pior é que existe bastante chance de que quem escreve na internet seja o mestre. E errado. Mas ao menos esse exercício não ajudaria o mesmo a melhorar sua forma de escrever?

Vamos rezar...

Ando já ha um bom tempo observando o RPG simples, gostei bastante do que vi. Abraços!

Gilson Rocha disse...

Valeu, Phil!

Tenho mais material a respeito de RPG e educação e de outros tópicos, como criação de jogos e o panorama do RPG no Pará.

Gilson

Jonatas Leite disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

Acho que existe uma tendência cultural, graças ao "jeito capitalista de ser", para que as pessoas produzam muito rapidamente e sem responsabilidade. Você, assim como eu, veio de uma outra escola: uma que exigia tempo e paciência. Contudo, apesar dos erros grotescos vistos pela net a fora, gozamos hoje de uma liberdade para escrever, para expressar ideías, que outrora não existia. Longe de defender a falta de compromisso, afinal, nossa língua merece respeito. Contudo, o erro construtivo é fundamental.

Renato disse...

Interessante, e concordo com o incentivo a leitura, como o desenvolvimento do inglês instrumental por usuários de RPG. Sempre foi algo que me surpreendeu e acredito que seja eficiente.